A beleza da mágica do mundo, isso é o
que encontramos ao deparar o nosso olhar com os olhos pulsantes e
encantadores de uma criança numa manhã de domingo. São olhos que
superficialmente estão presos a uma dor, mas que os adentrando
descobrimos os maiores enigmas dos séculos, encontramos o amor puro e
simples.
Numa manhã qualquer entre nuvens e
um sol escaldante os dizeres são como sílabas ao ar tomando consciência
e asas. De simples letras um mundo lúdico se cria com árvores e
coelhos, com uma chapeuzinho vermelho amarela e uma branca de neve
azul. De um jacaré um Pafúncio, de um sorriso um pequeno anjo.
Explicar o que acontece em um apartamento no Hospital Dona Regina é tentar descrever o celeste com nossas palavras mundanas.
Cada ser absorve a sua
personalidade o que é oferecido pelo meio social, como uma maré onde
todos se encontram imersos, sendo conduzidos ao mesmo ritmo. Nessas
circunstâncias dores não físicas se alojam na intimidade do ser, dores
essas bem mais severas do que várias daquelas que atingem o corpo numa
margem gritante solicitando que se percorra as delicadezas do íntimo a
observar o ignorado. Essas dores sociais individuais nos fazem duvidar
dos pequenos gestos dos pequenos detalhes da vida. Chegamos a certo
ponto a colocar numa via oculta as possibilidades de sorriso, de se
deliciar com as minúcias. O tempo torna-se tão escasso e as obrigações
tão acumulativas. Mas quando já não se espera eis que numa situação
inusitada, quando garotos travestidos de palhaços formando uma cena
irreverente fora dos padrões conceituais permite após o susto do novo
experimentar o feitiço do riso. Começa com uma coceira suave, o coração
parece estar mais quente, o corpo começa a ter vontade própria a
garganta domina a mente e uma explosão em forma de sorriso desencadeia
uma liberação de endorfina, que percorre todas as extremidades do
corpo, trazendo uma sensação de alívio. Naquele instante todos somos
iguais, os problemas trocaram de lugar, eles agora foram para aquela
via oculta, consigo olhar o outro e com lágrimas nos olhos de tamanhos
risos posso brincar e dançar, abraçar e sentir. Posso voltar ao mundo
mágico da infância, onde a mente não possui algemas e nem grades, podia
voar junto aos pássaros a deslizar sobre a brisa, enquanto o cabelo é
modelado pelo vento, trazendo os sentimentos dos sonhos que se
renascem, como a flor que traz sua beleza e perfume revelando o fruto.
Quem sabe o mundo verdadeiro vem à
tona, o mundo da imaginação, e possa povoar as mentes, criando novas
individualidades coletivas, rompendo o lacre das conveniências e dos
sonhos furtados, quem sabe o céu deixe de ser apenas azul e possamos
notar as mais diversas cores que povoam o nosso redor.
Quem sabe tenhamos coragem de expor o peito aos sentimentos e a vida à alegria.
Quem sabe, quem sabe...
Daniel Lamounier
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